Washington, D.C. — As recentes medidas tarifárias adotadas pelo governo norte-americano voltaram a gerar tensão entre os parceiros comerciais dos Estados Unidos — e, desta vez, o impacto pode estar se espalhando para um setor inesperado: o de hospedagem. Analistas da Bernstein emitiram um sinal de alerta ao mercado, indicando que a imposição de tarifas está começando a afetar o fluxo de turistas internacionais para o país, com reflexos diretos na demanda por hospedagem.
Segundo uma análise liderada por Richard Clarke, os efeitos das barreiras comerciais estão extrapolando o âmbito industrial e já afetam o comportamento de consumo global. “As viagens de entrada estão em queda, enquanto as tarifas continuam a ser utilizadas como ferramenta política e econômica. Isso pressiona diretamente o setor hoteleiro norte-americano”, diz o relatório da Bernstein enviado a investidores.
Turismo em retração
O relatório cita dados recentes da OAG, empresa especializada em dados do setor aéreo, que apontam para uma queda de 70% nas reservas de voos do Canadá para os EUA em março. As viagens vindas do México recuaram 11% em fevereiro, e as da França, 6%. O movimento sugere que os turistas estão reconsiderando os Estados Unidos como destino, em meio a um clima de incerteza comercial e diplomática.
A imposição de tarifas a países tradicionalmente aliados, como Canadá e México, foi justificada pela Casa Branca como uma medida para combater o tráfico de drogas e a migração irregular. No entanto, os dados mais recentes sugerem que o efeito colateral pode ser mais amplo do que o governo antecipava.
Pressão sobre a hotelaria
Os analistas da Bernstein destacam que empresas com grande presença internacional, como Marriott e Hyatt, estão especialmente expostas aos riscos dessa retração. Enquanto a Marriott mantém operações significativas no Canadá, a Hyatt tem forte atuação nas regiões do México e Caribe. Ainda assim, ambas receberam classificação de “outperform” (superar o mercado), com base na expectativa de que possam se adaptar mais rapidamente à mudança de cenário.
A nota também aponta que destinos alternativos estão se beneficiando da aversão momentânea aos EUA, com Canadá e México entre os favoritos dos viajantes que evitam o solo americano. “A confiança do consumidor está em queda, e há uma percepção negativa em torno de marcas fortemente associadas aos Estados Unidos”, afirma Clarke.
Riscos macroeconômicos à vista
Além do impacto direto no turismo, economistas alertam para consequências macroeconômicas das tarifas em larga escala. Há sinais de que o protecionismo pode reacender pressões inflacionárias e prejudicar o crescimento econômico — um cenário clássico de estagflação. Ainda assim, o governo Trump tem dobrado a aposta, ampliando a lista de países e produtos-alvo das tarifas, sem distinção entre aliados e adversários.
Enquanto isso, os analistas chamam atenção para o desequilíbrio entre as viagens de entrada e saída nos EUA. Apesar da retração de turistas estrangeiros, o fluxo de americanos para o exterior continua em crescimento, com alta entre 3% e 4% no acumulado do ano. “Não há um movimento equivalente do lado dos consumidores americanos. O turismo doméstico permanece aquecido”, conclui o relatório.